Euzébia e Astolfo Dutra, municípios vizinhos localizados na Zona da Mata, estão cada vez mais distantes do período em que suas economias eram sustentadas pelo cultivo da cana de açúcar e do fumo. Até 25 anos atrás, a usina de açúcar e álcool localizada em Astolfo Dutra ainda era a principal geradora de empregos na região, mas a produção de mudas de frutas, plantas ornamentais e florestais, desenvolvida por agricultores familiares, já se tornava expressiva principalmente em Dona Euzébia. Agora, este município lidera a produção de mudas no Estado e poderá iniciar exportações diretas do produto para a África no segundo semestre.
De acordo com a Câmara Técnica de Fruticultura do Conselho Estadual de Política Agrícola (Cepa), criada pela Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), Dona Euzébia é atualmente o segundo produtor nacional de mudas cítricas (principalmente laranja, limão e tangerina) depois de Limeira, em São Paulo. Dona Euzébia deve responder por cerca de três milhões dessas mudas em 2011. O extensionista Virgílio Machado de Almeida, do escritório local da Emater, considera que as exportações diretas daquelas mudas para os países africanos, desembarcadas em Angola, deverão fortalecer a produção. Ele diz que a empresa de extensão, vinculada à Seapa, dá suporte a mais de 300 produtores em Dona Euzébia, prestando assistência técnica diretamente a mais de 100 viveiros.
O trabalho dos técnicos da Emater para o aprimoramento da produção de mudas foi reconhecido por representantes de Angola que visitaram Dona Euzébia depois que produtores mineiros estiveram na África. Esse intercâmbio teve a participação do presidente da Cooperativa dos Produtores e Comerciantes de Mudas de Dona Euzébia, Romildo Pereira. Ele informa que, em novembro de 2010, integrou uma missão que foi ao encontro de produtores e técnicos envolvidos em programas de produção de frutas cítricas em Angola.
“Depois dos contatos que fizemos com esses grupos e representantes de organizações que têm potencial para adquirir o nosso produto, tivemos condições de acelerar a criação, em Dona Euzébia, de uma empresa exclusivamente para a exportação de mudas”, diz Pereira. O produtor acrescenta que dentro de dois meses a empresa deve ter autorização para funcionar, e acredita que terá um considerável reforço na receita de sua propriedade com as exportações diretas para a África.
“Nosso potencial de exportação de mudas é muito grande”, enfatiza o produtor, que participa também da Câmara Técnica de Fruticultura do Cepa. Por enquanto, ele acrescenta, as exportações mineiras de mudas para o continente africano são feitas por meio de uma empresa do Rio de Janeiro. Em 2010, Pereira participou com embarques de um volume aproximado de 15 mil mudas de frutas cítricas, e agora está se preparando, com outros três produtores de Dona Euzébia, para atender aos primeiros contratos de venda direta.
Os agricultores familiares Sebastião Nunes Henriques e Leonardo Henriques, pai e filho, fazem parte do grupo de agricultores familiares de Dona Euzébia que se dedicam à produção de mudas. A colheita na sua propriedade (Fazenda Dona Zélia) entre setembro e dezembro, segundo Sebastião, deverá alcançar 53 mil mudas de cítricos, volume 22% superior ao registrado no ano passado. “As condições são amplamente favoráveis à produção de mudas na região. O clima é temperado, a terra tem excelente qualidade para os cultivos e, para o desenvolvimento das mudas, ainda contamos com muito sol e muita chuva”, explica o produtor.
Sebastião acrescenta que os compradores do mercado interno de mudas, principalmente no segmento de frutas cítricas, estão cada vez mais exigentes quanto à procedência e qualidade do produto. “Por isso, esses compradores que buscam mudas em Dona Euzébia preferem fazer o transporte quase sempre em seus próprios caminhões. Já o sistema de vendas por entrega ainda é adotado principalmente para mudas de plantas ornamentais como as palmeiras”, ele completa.
De acordo com Thyara Rocha Ribeiro, assessora técnica da Seapa, os produtores do segmento de mudas em Minas Gerais estão sempre atualizados quanto às tecnologias, tendências e exigências do mercado. Ela acrescenta que a qualidade das frutas está diretamente ligada ao histórico da planta que a produziu. “Por isso é importante adquirir mudas certificadas, com padrão uniforme, o que facilitará os tratos culturais e a colheita. Mudas nessas condições são mais produtivas e evitam a disseminação de pragas e doenças. Outra vantagem é que essas plantas sadias servirão de matriz para a formação de outras mudas destinadas à ampliação de pomares comerciais”.
Segundo a assessora, o fator qualidade possibilita a crescente oferta de mudas em Dona Euzébia e Astolfo Dutra, onde são produzidas cerca de 120 diferentes espécies e variedades. Além das mudas cítricas, o município produz 20 milhões de mudas ornamentais e florestais. Destacam-se algumas para jardim (azaleias, dracenas, palmeiras e bromélias), nativas (ipê amarelo, ipê rosa, pau-ferro, copaíba, cedro e jatobá).
Já o agricultor familiar Ronaldo Fernandes Souza fez a opção pelo cultivo de mudas de mangueira e tem a perspectiva de uma colheita de 70 mil unidades, o dobro do volume registrado em 2010. A variedade predominante na propriedade de Souza é a umbu, cotada no ano passado a R$ 3,50 a muda pronta para o plantio. “Estamos expandindo as vendas de nossas mudas e já fizemos negócios inclusive com compradores de Juazeiro, na Bahia”, explica o produtor, que também sonha com a possibilidade de exportar.
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